Você Escuta Bem ? 04.01.2015
“É na escuta que o amor começa. E é na não-escuta que ele termina. Não aprendi isso nos livros. Aprendi prestando atenção”, dizia o escritor Rubem Alves em um de seus textos. É uma constatação alarmante, tendo em vista que a maioria das pessoas não escuta bem.
E não se trata aqui de um problema de audição e sim de apropriação e desapropriação.
Apropriar-se do que o outro está falando antes mesmo de emitir julgamento, sem antes mesmo compreendê-lo. O escutar passa em primeiro lugar pelo “sair do meu mundo de certezas e dar uma
chance ao seu”.
Acontece que “abrir mão do meu mundo de certezas” momentaneamente significa desproteger, abaixar a guarda, é como se nos deixasse vulneráveis na impiedosa competição da vida. Esta abertura, uma trégua na guerra do quem sabe mais, precisa ser compreendida como necessária e saudável, na medida em que nos movimenta fora de nossas convicções e nos retorna a elas se pertinente
. Mais ainda, nos permite rompê-las quando necessário, que maravilha!
A convivência é, infelizmente, uma armadilha à boa-escuta. Ao viver cotidianamente com alguém, desenvolvemos a tendência a estruturar e categorizar suas características. Claro que há necessidade em algum grau de mapear com referências cada um próximo a nós, até porque podemos usar isto para o bem, para a administração do viver junto. Mas é comum também que esta referenciação se torne engessamento e, a partir dali, obedecemos à regra que criamos independente da realidade.
Realidade é multideterminada.
Categorização é (mini) determinada, é amostra, é padrão, não verdade absoluta.
Não podemos sempre achar que o fulano fez isso porque é assim e não considerar mais nada. Erro perigoso. O automatismo que toma conta de nós e nos tira a possibilidade de viver um evento de cada vez, considerando tudo o que o envolve, nos escraviza. A tomada de consciência desta rigidez destranca a porta, o treino, o engajamento do “novo agir” abre a jaula.
Vamos exercitar o ouvir-primeiro, pensar-depois.
Investigar-primeiro. Concluir-depois.
Olhe em volta, não “dentro”. Depois volte para “dentro” e defina aquele episódio. Tenha a certeza de que pelo menos foi justo com o mundo de todos.